O bloqueio criativo é algo que atormenta profissionais das mais diversas profissões, do designer ao publicitário, do arquiteto ao músico.
É evidente que as áreas criativas são mais afetadas por isso, mas eu vou lançar uma hipótese neste artigo: bloqueio criativo não existe.
Nesta hipótese, existem três fatores principais que corroboram para o que chamamos de “bloqueio criativo”. E como esses fatores podem ser identificados, podemos trabalhar em cima deles.
O que o senso comum normalmente chama de bloqueio criativo pode ser explicado por três circunstâncias principais: déficit na definição do objetivo, falta de pesquisa e fadiga mental.
E são esses fatores que eu explicarei nos próximos tópicos, preenchendo com dicas para vencer o tal “bloqueio criativo”.
1- Definição do objetivo
Desenhe um cachorro pra mim. Isso, pega um papel e caneta e desenha um cachorro pra mim.
Você concorda comigo que essa demanda não é nada específica? Existem cerca de 400 raças de cachorro no mundo, e sem contar a posição, idade e o mais crucial de tudo: por que estou te pedindo esse projeto?
Este exemplo serve para vermos o quanto somos ansiosos e já queremos pôr a mão na massa sem ao menos compreender a demanda e entender os porquês.
E quando eu falo sobre definição de objetivo, é justamente a pergunta “por que estou fazendo esse projeto?” que precisa ser respondida.
Se existe um projeto, existe uma dor a ser sanada. Definir bem o objetivo é uma forma de afunilarmos o escopo do projeto, deixando cada vez mais específico e conseguindo atingir mais especificamente na dor.
2- Pesquisa
Depois de definirmos o objetivo, vamos para o papel! Mas não o papel da execução. Vamos para o papel para respondermos mais perguntas.
“Poxa Éricles, eu achava que criatividade tinha a ver com dom e que bastava sentar numa poltrona e esperar que as ideias chegassem”. Pois é, gafanhoto, não é exatamente assim.
Existem uma série de modalidades para aplicarmos nessa etapa de pesquisa, e sim, estamos nos referindo a uma metodologia, e é essencial que seja seguida, não adianta fazer pesquisa antes de definir o objetivo, por exemplo.
Para um bom começo, eu gosto de explicar dois tipos de pesquisa: Análise de similares e pesquisa com o usuário.
Análise de similares
Esta ação de pesquisa tem a ver com a comparação de produtos ou serviços já existentes. É extremamente importante para nortear o projeto.
“Será que estamos fazendo algo completamente novo?” “Esse tipo de solução já existe no mercado?” “O que outros profissionais já estão fazendo?” A partir desses princípios evita-se reconstruir a roda.
Pesquisa com o público
Converse com o público. Entenda quais são as reais dores dele. E com dores não estou falando de dor nas costas ou na lombar, mas quais as necessidades do público. Além disso, é preciso entender qual o seu modelo mental.
Vamos imaginar o seguinte, ainda com o exemplo de desenhar o cachorro: você precisa desenhar um cachorro para um Pet Shop. Qual o modelo mental do público desse Pet Shop? E com modelo mental, quero falar sobre como ele pensa o mundo dos Pet Shops. Qual a raça desse cachorro? Ele tem raça? Qual o tamanho? Como que o público imagina esse cachorro?
Modelos mentais são a forma como interpretamos a realidade ao nosso redor, e isso é totalmente condicionado ao nosso background. Quem projeta, projeta para alguém. Ou seja, é vital que se conheça sobre o público.
3- Momento de ideias
Existe um momento propício para ter ideias: quando se está de mente aberta para registrá-las.
Nesta etapa você vai pegar a definição do projeto e o fruto de suas pesquisas, tanto a análise de similares como a pesquisa com o público, e imaginar: qual a melhor solução de acordo com essas variáveis? E aí sim comece a rabiscar.
Ainda levando em consideração o exemplo do cachorro para o Pet Shop, seus rabiscos podem ter relação com a posição desse cachorro, o ângulo do desenho, etc.
Mas expandindo um pouco para as outras áreas criativas, é crucial o uso de rascunhos, porque é mais fácil alterar algo que demorou 3 minutos para ser feito do que um projeto inteiro de 3 ou 20 dias.
Alguns profissionais de design chamam esse processo de Rafe, outros de rough, mas o importante é ter em mente que precisa ser um rascunho da solução. Faça quantos forem necessários, talvez lá no 184º você se sinta satisfeito.
4- Respire
A dica mais importante de todas: respire. Não precisa se afobar pelo prazo apertado ou querer forçar soluções que só vão gerar refações. Respire. Tome uma água, saia do ambiente, vá pra rua sentir o sol esquentar sua pele.
Se você já executou todas as etapas que citei anteriormente mas mesmo assim está sem ideias, respire. Deixe que seu cérebro processe todas as informações. E se mesmo assim estiver difícil, volte para o passo 1. “Será mesmo que eu sei o objetivo deste projeto?” “Fiz pesquisas o suficiente para ter uma solução adequada?”
Conclusão
Criatividade tem muito mais a ver com pesquisa e dedicação do que, necessariamente, um gene especial ou coisas que caem do céu. Todo mundo pode ser criativo se aguçado com os estímulos corretos.
Quando pensamos na figura de um criativo com distância (imaginando que aquilo é uma coisa que não foi conquistada mas sim cedida no nascimento), estamos nos afastando de sermos criativos.
Existem insights? Sim. Mas eles não são fruto de dom ou bênção divina, são fruto de muito consumo crítico, pesquisa e perguntas corretas.