Falar sobre mudar o mundo é sempre um assunto excitante, mas por vezes uma visão muito romântica de entusiastas.
Eu não sou muito otimista em relação às mudanças que o futuro pode oferecer, talvez fruto do pensamento muito racional e filosófico, mas quando se trata de Design e futuro, eu realmente olho com outros olhos.
O principal efeito do Design é promover mudanças, e neste artigo eu vou falar sobre a minha visão do assunto e como o Design pode mudar o mundo. Mas antes de começar, quero trazer uma notícia muito importante: o Design já mudou o mundo!
O mundo não é o mesmo
Se fizermos uma contextualização histórica, vemos que o Design já mudou o mundo de diversas formas, principalmente com inovações tecnológicas.
A tecnologia é um braço da inovação, que anda de mãos dadas com o futuro, e costumo falar que ela é um instrumento de construção do futuro enquanto o Design é a forma como vamos manusear essas ferramentas.
O exemplo mais clássico sobre o Design mudando o mundo é Thomas Edison, inventor e empresário americano que registrou um total de 1.033 patentes e com aproximadamente 400 invenções em 8 anos.
Thomas Edison é conhecido pela lâmpada elétrica, notadamente um dos maiores inventores do mundo. E grande parte desse pensamento foi estruturado em uma abordagem que só ganharia força e se popularizaria no final do século passado.
Design Thinking
À grosso modo, Design Thinking é a forma como um designer pensa, mas com a estruturação do modelo, não-designers também conseguem aplicar essa abordagem.
Em outras palavras, Design Thinking é uma abordagem integrada para resolver problemas complexos, sendo categorizado em 5 grandes fases:
- Descoberta;
- Interpretação;
- Ideação;
- Experimentação;
- Evolução;
Em resumo, o Design Thinking se propõe a compreender o que é viável, desejável e possível tecnologicamente, por meio de experimentações e erros, compreendendo que o erro não só faz parte do processo como é uma consequência necessária para se construir algo inovador.
Existem três características do Design Thinking que mais me chama atenção quando falo sobre a mudança que o Design propõe para o mundo.
1- Empatia
Empatia é a capacidade de se conectar com o outro, mas levando em consideração suas experiências e perspectivas, o que difere à simpatia.
É evidente a importância da empatia quando falamos sobre resolução de problemas, aliás, para se resolver alguma coisa, é necessário compreender o que precisa ser resolvido, e se não é um problema que nos aflige, precisamos nos conectar com a(s) pessoa(s) atingidas por ele.
2- Confiança criativa
Em uma pesquisa (não me recordo a fonte) feita com crianças e adultos sobre a convicção da capacidade criativa, 98% das crianças com menos de 6 anos acreditavam ser criativas, enquanto só 2% dos adultos afirmavam isso.
Segundo Tom Kelley, parceiro na consultoria de design e inovação da IDEO, as habilidades criativas são como um músculo que crescerão e se fortalecerão na prática.
Isto é, quando falo sobre confiança criativa, estou me referindo à otimismo acerca das habilidades criativas.
3- Colaboração
Essa característica conversa diretamente com a empatia, pois a colaboração tem em vista compreender determinado problema através de vários pontos de vista.
E não somente pontos de vista como visões diferentes em si, mas em busca de backgrounds diferentes, realidades diferentes.
Só vamos conseguir compreender problemas complexos dando oportunidade para que pessoas diferentes entre si se unam a fim de discutir e buscar melhorias para o todo.
As dimensões sobre as quais vou falar acerca do envolvimento do Design em sua melhoria não são independentes, mas vou separá-las para expressar melhor o meu pensamento.
Educação
O Design e a educação deviam andar de mãos dadas tal qual a tecnologia e a inovação.
Usando uma evidência anedótica, considero que amplifiquei meu aprendizado utilizando abordagens e metodologias do Design em 400%.
Claro que isso não é um dado apurado, mas vai servir de base para fazer minhas próximas análises.
O Design Thinking pode nos ser útil no momento de compreender um problema real das escolas, por exemplo.
Será que utilizar uma metodologia que não suporta mudanças de paradigma tão profundas como a chegada da internet é realmente eficaz? E quando nos referimos às necessidades do futuro? Será que os alunos estão sendo preparados para o mundo real?
Compreender essas questões e invalidar algumas hipóteses é um caminho inicial para decidirmos o futuro da educação, pois atualmente o quadro é crítico, onde as escolas (em sua maioria) não focam em habilidades que podem ser incentivadas nos alunos, ressaltando a sua individualidade e aumentando sua autoestima, mas convivemos com a realidade, sobretudo em escolas públicas.
Inclusão
Educação e inclusão tem tudo a ver. Mas quero falar de inclusão de forma separada para entendermos algumas nuances e diferenças. O primeiro ponto é conhecermos a diferença entre inclusão e diversidade.
Costumo falar que diversidade é você me convidar para sua festa, inclusão é você me chamar para dançar.
De nada adianta imaginar a pluralidade que falei no tópico sobre colaboração se as mesmas oportunidades não são partilhadas.
Acessibilidade
Quando falamos sobre acessibilidade e Design, é quase impossível não citar os sete princípios básicos do Design Universal, por Ronald Mace:
- Uso equitativo;
- Flexibilidade de uso;
- Uso intuitivo;
- Informação perceptível;
- Tolerância ao erro;
- Baixo esforço físico;
- Tamanho e espaço para acesso e uso;
Tornar acessível segue o mesmo princípio da inclusão, não devemos falar sobre acessibilidade visando apenas uma aproximação segregada, mas realmente espaços que compartilhem de funções integradas, isto é, ambientes que estejam preparados para receber qualquer pessoa independente de sua limitação física ou intelectual.
Sim, o Design pode mudar o mundo
Este é realmente um tema que desperta em mim o otimismo sobre o futuro, pois temos as ferramentas necessárias para construir um mundo melhor.
E todas as dimensões que citei acima, da educação à acessibilidade, podemos aplicar a abordagem e metodologias do Design para trabalhar desde o reconhecimento do problema, empatia e interpretação, até as etapas de implementação das soluções.