Para o artigo de hoje, continuando a série “por dentro do processo de criação“, conversamos com o Carlos Cabral, ilustrador, escritor e professor, com trabalhos desenvolvidos e reconhecidos em diversos países.
Além do processo criativo (desde o briefing até a finalização de uma ilustração), abordamos nessa entrevista um pouco mais sobre a profissão de ilustrador e o mercado de trabalho. Ou seja, um prato cheio para quem quer seguir na área!
Confira a entrevista em vídeo e os trechos transcritos logo abaixo:
Carlos Gomes Cabral
Assim como vários ilustradores, Carlos sempre gostou muito de desenhar desde pequeno, principalmente super-heróis, sempre “rabiscando” em todo lugar, praticando desde cedo.
A coleção de gibis já acompanhava na sua infância, alimentando o que inicialmente era um hobby e passou a ser a sua profissão anos depois.
Apesar de sempre gostar de desenho, iniciou seus estudos na área de TI por questões de mercado e oportunidade. Mas a arte o acompanhou por aí também, e dentro dessa área, que hoje compartilham tantas coisas em comum, Carlos aplicava tudo que podia em termos de design e ilustração, fosse nas apresentações ou interfaces criadas.
Ainda sobre sua formação, Carlos mencionou que não fez nenhum curso profissionalizante na área de ilustração, especificamente, aperfeiçoou suas técnicas praticando muito mais sozinho e copiando suas referências preferidas para desenvolver seu traço.
Até que, um tempo atrás, a TutsPlus abriu uma seleção para novos editores para criação de tutoriais, foi quando Carlos se inscreveu e começou a compartilhar seus conhecimentos de ilustração no site, onde você pode conferir diversos artigos criados.
Livro
Essa produção de conteúdo ajudou muito na carreira de ilustrador e autor, abrindo portas para a produção do seu livro Whoosh! 250 Ways to Get Motion into Your Drawings, disponível na aqui na Amazon e em diversos países.
O livro foi publicado em inglês, alemão, italiano e espanhol. Ele da dicas de desenho e tem participação especial de outros ilustradores de renome como da Marvel e Dreamworks.
Cursos
Carlos comentou também que iniciou seu canal do Youtube para poder compartilhar de maneira mais fácil, para o Brasil e fora, seus conhecimentos relacionados a ilustração.
Futuramente ele pretende lançar cursos e outros materiais que podem ajudar quem está querendo se aprofundar na área.
Além da Ilustração
Carlos também é sócio de uma empresa de tecnologia (a Abacomm), liderando uma equipe de experiência de usuário. E ter esse braço tecnológico desde a sua formação facilitou diversas demandas que ele pode aceitar, dentro e fora da empresa.
Comentamos nesse momento da entrevista a importância do designer ter também uma afinidade com a parte tecnológica mas não ser totalmente dependente dela. Sendo o analógico e o digital complementares na vida de um designer ou ilustrador.
O processo criativo de uma ilustração
Nessa parte da entrevista, como o Carlos fala do processo de criação das suas ilustrações, optamos por colocar a transcrição mais na integra da entrevista. Lembrando que se quiser ver a versão em vídeo, clique aqui.
O texto a seguir se refere à fala do próprio Carlos:
Briefing
Eu recebo o briefing do cliente, então a gente troca uma ideia, eu pergunto se o cliente tem algumas referências. Geralmente quando o cliente me procura ele já tá bem objetivo no que ele quer e já faz meu estilo, então sente que dá um match para o projeto dele.
Então essa parte da referência é mais tranquilo porque ele acaba pegando referências do meu próprio trabalho.
Começa com um bate-papo tentando entender a necessidade do cliente e depois de pegar esse briefing eu começo a coletar algumas referências, coisas que eu gosto, às vezes até do meu próprio trabalho, referência de imagem reais, se for um animal que eu tiver que desenhar, se for um ser humano, enfim. Aí eu coloco algumas referências que vi no Google e monto uma pastinha aqui.
Eu trabalho já há bastante tempo de forma digital, até por uma questão de conveniência, não gasto mais papel, tenho um tablet e trabalho de forma digital.
Qual é o modelo de tablet recomendado para quem está começando?
Eu recebo muito essa pergunta no Instagram de “qual Wacom que você utiliza?” ou “qual o tablet que você utiliza” e eu respondo que não importa muito qual tablet você usa, é óbvio que ele tem que oferecer o mínimo de níveis de pressão do lápis, você precisa se sentir confortável como se você tivesse fazendo um desenho no papel.
Mas, por exemplo, eu fiz todo o meu livro em uma Wacom Bamboo.
Eu não uso Cintiq. Cheguei a testar algumas, mas eu não uso. Eu uso a Wacom Intuos, acho que faz uns 3 ou 4 anos já.
Mas tendo bons níveis de pressão… A Wacom é uma empresa já bem consolidada. Os tablets dela são muito bons.
Sketches
Eu começo dentro desse processo, coletando as referências e fazendo os primeiros sketches, os primeiros esboços da ideia.Quando é um personagem, às vezes só uma pose ou alguma coisa assim, eu faço o sketch da pose.
Depois, mando para o cliente aprovar, para ver se está ok. Após a aprovação, eu começo a refinar as linhas do desenho em preto e branco mesmo, mas isso varia muito.
Por exemplo, em um trabalho de personagens, fiz um gatinho e um cachorro para uma empresa de petiscos, eles queriam os personagens com características cartoon, mas com uma finalização mais realista, com luz e sombra.
Sombra
Nesse processo eu entro com essa fase de sombra depois que já tem a parte do lápis mais refinado, vou definindo a sombra, já defino a direção da luz o que fica mais interessante no desenho.
Cores Flats
Depois da parte da sombra eu entro com as cores que a gente chama de flat, as cores básicas, vou colorindo a orelhinha, o focinho, o corpo, definindo a paleta de cores do personagem.
Iluminação
Depois eu entro com iluminação, dando os spots de luz, que a gente chama de High Light, vou marcando no desenho de acordo com a direção da luz.
Finalização / Texturas
Depois entro com a fase de finalização, que é fazer um ajuste de cor.
Uma técnica muito legal que eu gosto de fazer, é utilizar um Blur, para deixar algumas características do personagem mais em evidência, mas só quando dá pra fazer isso dentro do briefing.
Muitas vezes o personagem será recortado posteriormente, então não adianta fazer isso se eles vão aproveitara ilustração para diferentes níveis.
Resumindo o processo
Mas o processo é esse… Eu faço uma um sketch inicial, o cliente aprova eu vou refinando com lápis.
Eu criei um brush que simula um lápis físico. As pessoas até perguntam “você desenhou só com lápis né? Desenhou no papel e escaneou” e eu respondo que não, que desenho num tablet utilizando esse brush.
Depois eu entro com a parte de sombra, as cores básicas, a parte da iluminação, vou refinando e depois vou dando os ajustes finais no Photoshop. Eu gosto de trabalhar muito com os níveis, (levels) e vou ajustando pra ver qual a melhor cor, qual o melhor nível de preto.
Dica para quem está começando
O Carlos também nos deu algumas dicas para quem quer iniciar ou se aprofundar na área de ilustração, reforçando a questão que é presente para quem quer se destacar em todas as profissões: estudar bastante.
Não se limite apenas em fazer cursos, mas busque principalmente referências de seus artistas favoritos. Inicialmente “copiando” o desenhos deles para, com o tempo, criar o seu próprio estilo.
Publique suas criações nas redes sociais e não tenha medo de críticas. As críticas são importantes… Não adianta só mostrar a arte para sua mãe.
E conforme você for evoluindo, por que não também repassar esse conhecimento para os outros? Já que quando você ensina, acaba até aprendendo mais ainda!
Conclusão
Esperamos que essa conversa com o Carlos Cabral possa ter acrescentado pra você tanto quanto acrescentou pra gente.
Para continuar acompanhando o trabalho dele, visite seu Instagram e seu canal no Youtube.
Até a próxima!